2 de jan. de 2011

A VOZ

A voz é uma das expressões mais ricas do ser humano e revela aspectos de nossa natureza biológica, psicológica e sócio-educacional. Iniciamos nossa vida com um choro, o chamado choro ao nascimento que, de modo bastante interessante é uma produção afinada nos bebês normais, ao redor de 440 Hz, exatamente a freqüência do Lá do diapasão de afinação de coros. Esta emissão é um sinal de sobrevivência e da capacidade de respirar e estar no mundo exterior. Ao longo de nossa vida vamos desenvolvendo uma voz que é única e nos identifica de modo particular. Esta voz é o resultado de nossa vida emocional e recebe influências de nossa história familiar, cultural, social e emocional.

Por outro lado, o canto acompanha o homem desde os primórdios da civilização. Cantar significa emitir sons modulados seqüenciais, porém, sabemos que a dimensão do canto supera qualquer explicação fisiológica sobre a produção do gesto vocal.

O homem primitivo cantava para expressar as emoções, acompanhar os inimigos e acalmar a ira dos deuses. O homem moderno continua cantando, sozinho em casa, acompanhando o rádio no trânsito ou reunindo-se em corais. Todas as modalidades e estilos de canto sobrevivem até hoje, apesar dos tempos conturbados em que vivemos. Dos corais municipais aos corais religiosos, amadores ou profissionais, infantis ou da terceira idade, cantar ainda significa muito para as pessoas! Porém, ao contrário da voz falada, que é o resultado de nossa vida emocional, a voz cantada é o resultado do treino, pois pressupõe o controle de uma série de estruturas para se conseguir a qualidade vocal almejada. Para algumas pessoas cantar é quase natural e a afinação é nata, um dom; para outros, um trabalho de percepção auditiva e musical que deve ser cuidadosamente desenvolvido, antes de se conseguir uma boa emissão.

Terminamos nossa existência no chamado último suspiro e nossa vida é permeada por “muitas vozes”. Toda e qualquer tentativa de se desenvolver a voz é bem-vinda, pois cantar é um dos atos mais humanos que existe e cantar em grupo desenvolve a solidariedade, o respeito entre os homens e a sensação de não estarmos sozinhos no mundo.

Mara Behlau

Ph.D., Diretora do Centro do Estudo da Voz, Presidente da
Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz, Vice-presidente da
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia