18 de mai. de 2009

Giuseppe Verdi e Arrigo Boito

Verdi e a Unidade Italiana

Num pesado dia do inverno de Milão, o 27 de janeiro de 1901, uma multidão saiu às ruas para prestar uma da mais belas e espontâneas homenagens ao maior compositor italiano de todos os tempos. Giuseppe Verdi morrera aos 87 anos. Com lágrimas nos olhos, naquela data infeliz, milhares de pessoas sentindo-se na orfandade, vendo o féretro desfilar, cantaram em coro uma das suas mais celebradas passagens: Va, pensiero. Com ele sepultou-se também uma das mais comoventes e heróicas páginas da história da Itália moderna.

Va pensiero, Hino da Unificação

Depois de alguns fracassos iniciais como compositor, acompanhadas de situações de aviltada pobreza (em dois meses perdeu a mulher e dois filhos pequenos) , a partir de 1839, o jovem ex-organista e maestro di cappella da aldeia de Roncoli di Busseto, conseguiu afirmar-se como regente no famoso Teatro La Scala de Milão onde pulsava um intenso sentimento pró-independência. A Lombardia, província italiana do império austro-húngaro, aspirava à liberdade. Eis que o sinal da futura insurreição dos italianos foi dado por umas poucas estrofes inspiradas no Velho Testamento, a que narra os sofrimentos do povo judeu durante o cativeiro da Babilônia (um curto, sentimental e poético trecho que o povo consagrou como Va , pensiero!) Verdi disse, bem depois do sucesso alcançado, que fôra por puro acaso que vira aqueles versos. Ao ter deixado cair o libreto Nabuchodonosor de Solera, seu autor, sobre uma mesa, ele abrira-se justamente na passagem do Coro dos Hebreus, cujo saudoso e belo lamento tocou tão fundo os italianos (e por todos aqueles que, pelo mundo a fora, sentiam sua pátria espezinhada) .

A "Marselhesa" dos Italianos

Houve desde o princípio uma imediata associação entre as desgraças dos judeus no Eufrates ( escravizados pelo rei Nabucodonossor da Babilônia) , com os que a maioria dos italianos sofria naquele momento. No dia da estréia da ópera Nabucco, o 9 de março de 1842, mal o coro ter encerrado o último verso (IIIª Parte, cena IV), no qual os prisioneiros pediam inspiração para resistir com coragem as aflições, a Itália sentiu que ali nascia uma versão muito própria, totalmente sua, da "Marselhesa" . Desde então Va, pensiero,... consagrou-se como o hino da unificação italiana, enquanto o nome de Verdi circulou entre os patriotas como um anagrama (Vittorio Emmanuel Rè d'Italia). A meta unitária afinal somente atingiu êxito dezenove anos depois, em 1861, quando o rei Vitório Emanuel II do Piemonte foi proclamado rei da Itália (Roma somente integrou-se a ele em 1871, depois da retirada das tropas francesas que protegiam o papa).

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/verdi2.htm

Arrigo Boito

Arrigo Boito (Pádua, 4 de fevereiro de 1842 – Milão, 10 de junho de 1918), foi um poeta, escritor, libretista e refinado compositor italiano.

Filho de Camillo Boito, um arquiteto, crítico de arte e escritor, com a condessa Józefa Radolinska, Boito realizou seus estudos fundamentais em Veneza e, posteriormente, estudou violino, piano e composição no Conservatório de Milão, a partir de 1854. Já nesta época demonstrava grande aptidão musical bem como poética, realizando suas primeiras composições, tais como a cantata Il quattro giugno (1860) e Le sorelle d'Italia (1861), elaborando tanto a parte lírica quanto a melódica.

Ao término de seus estudos no mesmo ano de 1861, obtem uma bolsa e parte com seu colega de conservatório Franco Faccio para Paris, onde entra em contato com os compositores Gioacchino Rossini, Hector Berlioz e Giuseppe Verdi.

De volta a Milão, depois de um período em que viveu trabalhando em diferentes ofícios, escreveu em 1862 a letra do "Hino da Nação", posteriormente musicada por Verdi. No mesmo ano, parte em viagem para a Polônia, terra natal de sua mãe, onde escreve seu primeiro libreto, Amleto, baseado em "Hamlet", de William Shakespeare, posteriormente musicado por Faccio.

Em resumo: Boito fez o texto, e Verdi musicou o famoso “Va pensiero”!

“Va pensiero” – tradução

Ópera "Nabuco" (1842)

Parte Terza (Cena IV)

Le sponde dell'Eufrate

Ebrei incatenati e costretti al lavoro.

...

...

(Na margem do Eufrates)

(Hebreus agrilhoados constrangidos ao trabalho)

EBREI:
Va', pensiero, sull'ale dorate;
va', ti posa sui clivi, sui colli,
ove olezzano tepide e molli
l'aure dolci del

suolo natal!
Del Giordano le rive saluta,
di Sïonne le torri atterrate...
Oh mia patria sì bella e perduta!
Oh membranza sì cara e fatal!
Arpa d'or dei fatidici vati,
perché muta dal salice pendi?
Le memorie nel petto raccendi,
ci favella del tempo che fu!
O simìle di Sòlima ai fati
traggi un suono di crudo lamento,
o t'ispiri il Signore un concento
che ne infonda al patire virtù!

Hebreus:
Vai, pensamento, em asas douradas,
vai, pousa sobre as colinas e montes
onde sopram as doces brisas,
a quente e leve fragrância da nossa

terra natal
Do Jordão, das saúdas margens
e das desoladas torres de Sião
Oh pátria minha tão bela e perdida
Oh lembrança tão querida e fatal
Harpas de ouro dos fatídicos lamentos
porque pendem mudas nos salgueiros?
A memória no peito revive
a qual fala de um tempo que se foi
Cada um como Sodoma nos fados
lança um som de profundo lamento,

que o Senhor te inspire uma canção
que insufle coragem no padecer)

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